terça-feira, 5 de outubro de 2010

Hilário Porfírio uma vida dedicada ao futebol


Despertou para o futebol no Sport Club Alcaçovense aos 16 anos. Ao longo da sua carreira passou ainda pelo Lusitano de Évora, CUF do Barreiro e Juventude de Évora. Hoje aos 82 anos, recorda uma vida dedicada ao futebol onde, como diz, “havia vagar para tudo”.

Unanimemente considerado o melhor jogador da história do Sport Club Alcaçovense (SCA), “passeou” a sua arte também pelo Lusitano de Évora, CUF do Barreiro e Juventude de Évora. Aos 82 anos, Hilário Porfírio, natural de Alcáçovas, recorda com emoção os anos em que jogava à bola. Começou aos 16 anos “a jogar na rua com outros rapazes” até ao dia em que o chamaram para a equipa do Sport Club Alcaçovense. Era um garoto no meio de homens. “Comecei nessa altura a jogar à bola e nunca mais deixei de jogar”, lembra, e acrescenta que “nunca fizeram uma equipa em que o Hilário não entrasse”.

Daí, até jogar no Lusitano de Évora foi um passo. Aos 18 anos “estava a charruar a terra com o meu irmão, numa propriedade a uns quilómetros da vila, e à hora do almoço apareceu lá um senhor a perguntar se eu queria jogar no Lusitano”, diz. E, foi assim que foi jogar para Évora. Foi, também, nessa altura que começou a “fazer mais alguma coisa, não queria apenas jogar à bola”, e foi trabalhar para um talho.

No final da época, devido ao bom desempenho, foi novamente convidado a mudar de clube, desta feita, para a CUF do Barreiro, na altura na 2ª divisão nacional. “Aos domingos quando podia ainda ía lá para um talho, já com a ideia de abrir um nas Alcáçovas”, afirma. Entretanto, o pai adquire um talho na terra e Hilário Porfírio, apesar de querer continuar a jogar no Barreiro, volta para Alcáçovas. Desses tempos na CUF guarda na memória um episódio. Certa vez chegou a dizer “que estava doente e vinha para cá (Alcáçovas) jogar futebol”.

Hilário Porfírio jogava, habitualmente, a avançado centro e não tem conta o número de golos que marcou e os troféus que conquistou. Em casa guarda algumas taças, outras estão na sede do Sport Club Alcaçovense, assim como umas botas suas, antigas, “botas de travessas”.

Ainda passou pelo Juventude de Évora, mas era no Alcaçovense que gostava de jogar, apesar de recordar com sofrimento a falta de um campo para jogar durante anos. O campo que existia era ”do Sr. Branco Núncio e ele só deixava jogar de vez em quando. Quando jogávamos tínhamos que pedir o campo com antecedência para aquele dia”. Isto na fase em que representou outros clubes. Mas, era na sua terra que se sentia bem e onde jogou até aos 35, 36 anos. “Era um bocadinho superior à malta que cá havia”, diz a medo. “Ainda hoje se passar por Arraiolos e estiver à conversa com este ou aquele a respeito de futebol, perguntam logo pelo Hilário”, sublinha com orgulho.

Os sócios do SCA recordam Hilário Porfírio como “um avançado de finta curta e um grande rematador”. Apesar de humilde, Hilário Porfírio, reconhece que jogava bem, mas havia outros que o seguiam de perto. Era o caso de Manuel Coelho. Nesse tempo, Alcáçovas tinha bons jogadores. Dois deles jogavam na Académica de Coimbra.

Quanto às diferenças entre o futebol praticado nos nossos dias e noutros tempos considera que são algumas. Hoje, “as coisas estão mais apuradas”. Noutros tempos, não havia preparação suficiente para jogar. Hoje os clubes apostam na formação das camadas jovens e “os pais vêm ver os miúdos jogar para ver se sai um Ronaldo”. Antigamente jogavam às escondidas dos pais.

Também o dinheiro envolvido no mundo do futebol faz toda a diferença. Se hoje tudo gira à volta dos milhões, noutros tempos isso era impensável. “Nunca joguei com o interesse de ganhar dinheiro”, diz. E conta que quando representava o Juventude de Évora ganhava 250 escudos por mês, mas apenas recebeu o primeiro mês de ordenado porque não havia dinheiro para pagar. Hilário Porfírio garante ainda que a partir de certa altura começou a dar dinheiro em Alcáçovas para se jogar à bola. A vida proporcionada pelo negócio do talho, permitia-lhe ajudar o clube do coração.

Depois de terminar a carreira como futebolista, Hilário Porfírio continuou ligado ao Sport Club Alcaçovense até aos 65 anos (primeiro como treinador e, depois, como presidente) altura em que se aborreceu com o facto de os jogadores quererem “ordenados incomportáveis”. Na sua opinião, o futebol nas pequenas terras é para quem goste de jogar, desenvolver a sua técnica e partir à procurar de clubes que possam pagar. “Prometer às pessoas e não pagar não é do meu feitio e deixei de ser director”, lembra.

Hoje, “mestre” Hilário recorda com saudade esses tempos e a vida dedicada ao futebol. Uma vida onde “havia vagar para tudo”.

Retirado do Boletim Municipal da CMVA


Editado por António Costa da Silva

1 comentário:

  1. Adoro todo este relato feito pelo meu Pai.
    Tenho um grande orgulho no meu Pai!
    Foi e é para mim um HOMEM com H grande!
    Maria Celeste Maia Porfírio (Tété)

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